Ser mau
não é tão ruim
Estamos frente a frente em pleno sábado chuvoso.
Disse a ele que poderia ser invasiva com minhas perguntas. Um singelo “Vamos
começar” surgiu como resposta. Desde o início aqueles olhos castanhos estavam
fixados nos meus, pareciam desafiar os limites da minha sagacidade como
entrevistadora. Eles passavam mensagens como quem diz “Será que hoje você vai
desvendar meus segredos?”. Foi nesse clima instigante que entrevistei
Alessandro Rodrigues.
O ator, veterano no teatro, se julga uma pessoa má.
E, ao contrário do que muitos pensam, trata essa característica como uma
vantagem. “Todo mundo tem um lado bom e um lado mau. Tenho certeza que meu lado
mal é mais aflorado. E não me critico por isso”. Alessandro consegue ver pureza
na sua maldade, pois o ajuda a detectar seus pontos fortes e conhecer mais as
pessoas à sua volta.
Em cena, o intérprete do enfermeiro “Jurandir” – de
“O Vovô Viu a Uva” – vive um jovem interesseiro que tenta abocanhar a herança
de seu “Hipólito” (Ed Júnior) usando charme e vigiando os passos de seus rivais
em potencial. Rodrigues diz que adora
ser vilão e, assim como seu personagem, acha que a vida é como um jogo de
interesses “e danço conforme a música”, diz o ator.
O ator Alessandro Rodrigues como Jurandir ao lado de Rita (Lamylle Mello)
A primeira vez que foi um mal sedutor foi em “O
Marido da Minha Mulher” (2010). Ele formava par com a atriz Danielle Caetano,
amiga de longa data que, atualmente, é “Jorja” na peça do grupo Atos. Porém, a
sina de vilão vem desde sua estreia no teatro profissional em 2000, com a peça "Que História é Essa". Desde então já
viveu seres místicos como duendes e bruxas, momento em que descobriu sua paixão
por peças infantis.
Alessandro e Danyelle Caetano em 'O Marido da Minha Mulher'
"Trabalhei em uma produtora artística como ator em montagens maravilhosas, a maioria de clássicos da Disney. Cresci e amadureci bastante, porque a criança é um espectador sincero, se não gosta diz na cara. Me sinto livre em espetáculos infantis, na minha carreira guardo com muito carinho a peça ‘Dona Ursa Faz Quitutes’ que tinha um enredo legal e o elenco era demais!”.
'Dona Ursa Faz Quitutes', um dos trabalhos infantis que Alessandro mais gostou
Retrato da estreia de Alessandro no mundo teatral
Peça em que Alessandro divide cena com Ed Júnior
'O Casamento', peça que trata de amor e avanços tecnológicos
Quando se trata de projetos futuros, Rodrigues
confessa que deseja fazer musicais e ser crítico de cinema e se prepara para
isso. Em 2014 voltará às aulas de canto já na sétima arte sempre assiste longas
de diferentes gêneros e nacionalidades, e o drama é o que mais o arrebata.
Criou também um hábito de acompanhar vários seriados ao mesmo tempo. “Costumo
ver a primeira temporada de cada seriado, a segunda, terceira e assim
sucessivamente até acabar. Atualmente me revezo entre dez seriados”, revela.
Veja os seriados que nosso ator curte:
Intenso, Rodrigues afirma que a arte de interpretar
é prioridade em sua vida. Ao invés de o teatro se adaptar aos demais
compromissos, são os demais compromissos que se adaptam ao teatro. Isso faz com
que seja mais prático nos relacionamentos. Nada de se envolver com quem não
goste de teatro, nada de namorar alguém do elenco, nada de se apaixonar
perdidamente, nada de casamento, nada de ter filhos, nem mesmo se relacionar
com pessoas influentes no ramo artístico em busca da fama. Apesar disso declara
que “carreira se sobressai a amor, porque amores vêm e vão”.
Nas telonas ficaria careca, apareceria nu, também
viveria personagens gays com uma ressalva: “Para retratar o cotidiano
homoafetivo não precisa escancarar no sexo. Acho desnecessário uma cena
explícita de uma transa. Tem alguns elementos que já insinuam o que vai rolar,
não precisa escancarar. Para fazer uma cena rasgada assim, o diretor teria de
me convencer de que é um mal necessário. Se for uma denúncia aos casos de
violência sexual, como estupro, dependendo do contexto, posso pensar no caso”.
Ele relata que não tem desejo de interpretar pessoas que viveram na época da
ditadura, uma fase por ele considerada muito pesada.
Aos 35 anos, o capixaba diz que já se prepara para
ficar mais velho. “Eu não janto, não como frituras, não tomo refrigerante ou
coisas pesadas à noite. Quando tiver 40 anos vou começar a surfar bodyboard.
Acho que em pé ainda não tenho coordenação motora. Quero ser mais saudável, já
reparou o preparo físico de quem surfa?”, comenta. Alessandro Rodrigues ainda deixa um recado para quem quer entrar no mundo do teatro: